sexta-feira, 15 de junho de 2012

Família


Se há coisa que eu tenho vindo a questionar ultimamente, umas das coisas porque quem me conhece sabe que me questiono bastante, é o que/ quem é que é realmente a nossa família.

Quando era criança entristecia-me não ter uma grande família unida como tinham alguns dos meus amigos.  A minha família “próxima” era quase só os meus pais.  Não tinha uma relação assim tão chegada com tios e primos, e os meus avós nunca me iam buscar à escola e raramente ia lá para casa depois das aulas, como acontecia com os meus exemplos mais próximos. Fazia-me uma certa confusão não tratar os meus tios por "tio" ou "tia" e sim pelo nome mas, era um facto que nem à vontade para tal sentia, tinha pena de estar com os meus primos uma meia dúzia de vezes por ano, mesmo com os que viviam perto de mim. Os anos foram passando, estava com a minha avó materna todos os fins de semana, com os meus avós paternos mais ou menos de três em três semanas, e as relações com alguns tios e tias estreitaram-se e a confiança começou a crescer; com os primos e primas foi igual. Assim como todas as relações que "tinham pernas para andar" resolveram-se e evoluíram muito positivamente, aquelas que eram meramente "protocolares", do género temos que estar juntos em algumas ocasiões só porque somos família, que é como quem diz temos o mesmo apelido, deixaram de fazer qualquer sentido para mim. Talvez por ser adoptada, ou talvez não tenha nada a ver com isso (porque nunca me conheci com outra família) , sempre tive cá dentro o desejo de ter uma família estruturada. Aos 16 e aos 23 anos perdi duas pessoas que desde que tenho memória amei incondicionalmente, o meu avô paterno e a minha avó materna; e sobretudo a perda da minha avó afectou-me de uma maneira que nunca pensei que fosse possível.  

Com o tempo fui aprendendo que da nossa família não fazem só parte aqueles que partilham do nosso "sangue" aliás, como referi a cima alguns desses nem o fazem.  Atrevo-me a considerar-me uma pessoa abençoada por ter uma família tão grande; pessoas com quem partilho a minha vida ( e algumas delas a uma grande distância). A amizade, o amor, e o carinho que damos às pessoas e consequentemente recebemos supera qualquer outro tipo de mera ligação que possa existir.

Seguindo para um exemplo concreto, há dois anos e meio mais ou menos, por um feliz acaso (ou quem sabe já estaria destinado), conhecí uma pessoa que quase logo se veio a tornar da minha família e a ocupar um lugar especial no meu coração e, sinceramente, acho que já não consigo imaginar a minha vida que não assim! Hoje, é minha madrinha e conhece-me como muito pouca gente me conhece, e "testemunhou" os melhores e piores momentos da minha vida, e sinto que posso confiar nela;  mesmo a 225 km de distância e umas semanas falando mais ao telemóvel que outras sei que gosta mesmo muito de mim, que se preocupa e só quer o melhor para mim. E tudo isto é totalmente mútuo, adoro-a do fundo do meu coração, só quero que ande bem e espero que saiba que pode confiar em mim. E ganhei também um padrinho também mais do que 5 estrelas. Apareceram numa altura importante na minha vida e gostaram de mim tal e qual como eu sou, o que me faz sentir paz quando lá estou. É bom não ter que provar nada. É esta a minha noção de família, as pessoas gostarem umas das outras. 

Às vezes posso parecer uma pessoa forte e determinada mas, quem me conhece bem sabe que são poucas as coisas em que assim o sou. São muitas mais as dúvidas, o medo de errar, ou medo de desapontar as pessoas e portanto nem arriscar a fazer certas coisas ou tomar atitudes e iniciativas. Talvez a minha necessidade de ter até seja derivada destas minhas fragilidades, da necessidade de ir buscar estabilidade a algum lado.

Tenho uma família grande e que adoro, e que eu sei que gosta de mim. E isso faz-me feliz.